domingo, 9 de agosto de 2015

Porque tal como o mar também tenho os meus dias de revolta...




Não queria trazer para aqui lamúrias nem o drama que tenho vivido há cerca de um mês. O Verão foi sempre a minha estação favorita e neste ano tem sido uma estação sombria, triste e carregada de medo. 
Após o diagnóstico é como se por momentos a nossa vida parasse embora o coração bata e bata bem forte, mas parece que tudo perde cor, sabor e cheiro. 
A primeira vez que saí à rua e ia no autocarro ter com uma amiga para passar a tarde foi muito revoltante. 
Senti muita revolta... Via as pessoas descansadas a irem às suas vidas, a rapariga à minha frente estava a caminho do supermercado para comprar as coisas para a mariscada ao final do dia... (Eu que adoro comer e principalmente marisco). Outra lia a revista com uma descontracção e eu só pensava que eu estava a passar por uma enorme crise e que a minha vida tinha terminado e toda a gente à minha volta feliz...
Essa tarde foi de muito choro e de um ombro amigo que está sempre lá. A minha querida Ana. No dicionário a palavra amizade certamente vem lá a foto dela, Ela deu -me a mão nos momentos mais difíceis, ainda antes deste da doença e sempre me tem acompanhado em tudo. Torce por mim, Manda -me mensagem de apoio todos os dias, procura me dar mimos para me distrair, enfim, Amiga com "A" bem grande. 
Entretanto os dias vão passando e como isto já fiz um cateter, já tive internada, já fiz dois tratamentos, já vomitei muitas vezes, já chorei milhares, já consegui rir algumas vezes, mas não consigo tirar aquele fundo triste que me fica no olhar...
O cancro, que agora apelidei o meu de Gregório, dá cabo da pessoa em todas as vertentes. O meu tirou -me o apetite e a própria acção de comer. A minha alimentação é muito restrita e líquida. 
Já pensei muitas vezes porquê eu? Mas já desisti, quando vou aos tratamentos estão lá pessoas da minha idade ou mais novas... E elas certamente se questionam o mesmo e sofrem tal como eu, a minha família e amigos.
Muitas vezes podem achar que pareço forte, pelas imagens do facebook, mas muitas vezes estou no chão... Tento me fazer de forte quando sei que tenho um grande desafio pela frente e nem sei o que vai acontecer. Há dias que desespero por voltar atrás no tempo para viver um dia de ignorância e comer o que queria, atirar -e a uma piscina, fazer a minha vida... Outros dias quero que o tempo ande muito rápido para resolver tudo isto e prosseguir com a minha vida... Mas já percebi que não tenho outra forma do que ter paciência.... Isto irá demorar e eu não posso fazer nada para avançar o tempo...
Escrevo este post para quem o leia aproveite o bem mais preciso, a Saúde. Com saúde podemos fazer tudo e isso é um bem que não tem preço. Eu sempre pedi saúde mas agora vejo -a com outra perspectiva. 
Quero muito viver, voltar a comer os meus pratos favoritos, não ter cólicas que não me deixam dormir, e poder viver...
Por isso, aproveitem o dia de hoje para pensar na fortuna que têm. Então com filhos? Duplamente afortunados. Convidem a família a almoçar, vão beber um café, sentam -se a mesa a contar histórias de família, dêem abraços, beijos, façam o dia valer a pena, pois nunca se sabe o que trára o dia de amanhã...


A minha nova capa de telemóvel


Eu andava farta das minhas capas de telemóvel e então fui cuscar no Aliexpress e procurava em silicone que são mais fáceis de tirar e não se partem.

Uma das primeiras que mandei vir eram de plástico e ao mudar devo ter feito mais força e pumba partiu-se.

Agora só quero destas, assim protegem ao mesmo tempo que são mais fáceis de tirar.

Esta é de morangos, também mandei vir outras mas depois mostro.

Esta custou cerca de 2 euros e qualquer coisa com portes incluídos.

Que tal acharam?


domingo, 2 de agosto de 2015

Destes últimos dias

Andei ausente por aqui por razões de saúde.

Fiz o meu primeiro tratamento de quimioterapia. No dia correu tudo bem.

Basicamente o que acontece é o seguinte: temos uma consulta com uma enfermeira que nos explica tudinho o que vai acontecer, mostra as instalações, dá contactos de lojas para as próteses capilares e para os lenços. Explica os efeitos secundários e os comprimidos que temos de tomar para os mesmos.
Depois vamos para uma sala, clara, com bom aspecto (nisto o Hospital dos Capuchos tem esse cuidado) e uma enfermeira (várias) tratam de nós.

Eu fui com a minha mãe, pai e uma prima, que tem sido uma rocha para mim. Um dia falarei dela para vocês mas noutro episódio.

Uma vez que o tratamento é demorado, cerca de 3/4 horas, os meus pais foram comer e ficou a minha prima a fazer companhia. Uma vez que tenho o cateter é só uma picadinha e já está! Tenho as mãos livres para ler, pintar etc.

Como foi a primeira vez toda eu tremia e tinha a pulsação muito acelerada. Eu só dizia para a minha prima: "Eu quero sair daqui!!!!" e Ela tão querida dizia então este é o momento que todos queremos!! O começo da cura!!! As enfermeiras, umas queridas, autênticos anjos sem asas, deram -me carinho, amor, atenção. A mim e aos outros...

Depois comecei a acalmar e naquele momento não tem nada de especial, não sentes nada, vais falando com outras pessoas, podes ler, comer.

No meu caso, após cada sessão eu trago uma bolsa com um líquido que está ligado ao cateter e que vai injectando 20 ml por hora durante dois dias.

Passei os dois dias meio enjoada, um pouco fraca mas sem vomitar. Fui tirar o tal cateter e aí não sei o que se passou...

Para os médicos, foi a reacção à quimio, mas passei a noite muito mal, cheia de cólicas e a vomitar...

A minha mãe ligou para o médico e ele quis observar-me. Quando chego ao hospital, dá -me a travadinha, devo ter ficado desidratada e fizeram -me análises e raios X.

Vim para casa, pois o médico não me queria lá sujeita a apanhar bichos. Só que continuei a vomitar e então ele resolveu me internar para ficar em observação.


Era a primeira vez que eu era internada. Eu chorona como sou, fartei -me de chorar, mas estava tão mal, tão em baixo que já queria qualquer coisa. A primeira noite foi a mais difícil porque tinha dores, tinha medo que o meu quadro se tivesse agravado...

Fiquei mais dois dias em observação para os médicos verem se tolerava a água sem vomitar. Tive alta na sexta feira e agora encontro -me bem melhor.

Como miminho deixei umas línguas de veado para os médicos, enfermeiras e auxiliares como prova da minha gratidão pelo carinho prestado e pelas noites que ali passam a velar pela nossa saúde.

Na opinião dos médicos o que me aconteceu foi derivado do efeito da quimio e por isso tenho de estar preparada para as próximas sessões.

A próxima é sexta dia 7... Terei o fim de semana e depois é rezar aos santinhos para não suceder o mesmo.

Não posso deixar de agradecer a todo o pessoal do Hospital Curry Cabral que tão bem me tratou e pelo carinho que dão a cada doente nos momentos mais difíceis...